terça-feira, 2 de abril de 2019

A mira do estilingue na terra dos Papagaios



Fotos e texto: Lídia Maria de Melo


À beira do Atlântico, um país de Papagaios elegeu seu líder maior, simulando estilingue com as asas.
No período da campanha eleitoral, o som das Maritacas era tão forte que, soprado pelos ventos oceânicos, atraiu terras longínquas.
Mesmo voando aos quatro cantos, Tucanos e Guarás-vermelhos logo perderam espaço.
A fauna entrou em espécie de transe, com o ruído dos louros, cujo líder reinaria durante quatro longos anos, assessorado pelos filhotes, por um Falcão-peregrino e um Urubu-rei.
O cenário ficou a tal ponto agitado que um terço dos eleitores se recusou a votar. Outro terço optou pelos Guarás.
Um pouquinho mais de outro terço, porém, caiu de encantos pelo Papagaio-mór, que obedecia cegamente a uma Calopsita, ou Cacatua faceira, não se sabe exatamente, que fez ninho em Terras do Norte, banhadas por dois oceanos.
No entanto, três meses após a aclamação, um forte chacoalho abalou o Reino Alado.

Seria um terremoto? Aviso de furacão? Ou efeitos do voo do Super-Homem? (Ou seria o Batman?). 
Uma rajada de vento tropical soprou forte uma notícia que logo se espalhou. Todo o território estava à deriva nas mãos de um Papagaio a serviço das terras nortistas e de um pequeno Espaço Conflituoso no Deserto, disputado por Estorninhos e Corujas-de-celeiro.
                                                    

Se governasse para os Papagaios, Maritacas, Araras e afins, o Papagaio-mór não teria se aliado aos Estorninhos e atraído a fúria da Coruja-de-celeiro e de espécies-irmãs.
Assim, as aves exportadoras da Terra Papagalli não deixariam de negociar ração com todas as espécies de Corujas e outras aves-aliadas.
O pior dessa história é que o Reino dos Papagaios também pode atrair outras modalidades de ódio. Toc-Toc-Toc! De tanto medo, as aves estão convocando o Pica-pau, para  bater na madeira três vezes, com seu poderoso bico, e isolar a possibilidade de algo dar ainda mais errado. 
As aves têm voado cabisbaixas, sem querer cantar. Voam rasantemente, avaliando seus erros: encantaram-se com uns pios e gorjeios, que na verdade não partiam de um coral bem regido.  

Se houvesse um maestro exímio, o Papagaio estaria ladeado pelo Bem-te-vi. O Beija-flor comandaria a área das Artes. João-de-Barro assumiria o setor da Habitação e a Águia, a Educação. Para o Meio Ambiente, qualquer uma delas se sairia bem. Porém, nenhuma foi convidada, o que desperta profundas desconfianças.
O que há de certo é que o reino naufraga a olhos vistos, sem sombras de expectativas.
A Previdência foi entregue ao bicho-homem. As aves já sabem que boa coisa não virá. E um tal Plano Anticrime, do Urubu-rei, tem por sustentação a filosofia de James Bond. Aquele mesmo de codinome 007. Licença para matar. 

As penas das aves tornaram-se muito ouriçadas. Não sabem a melhor decisão. Se ficam, o bicho pega; se voam, o homem come. O fato mesmo é que receiam virar os alvos, durante as aulas de estilingue.
Nesse caso, só vislumbram uma saída: tornarem-se aves de arribação.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pelo comentário. Assim que for lido, será publicado.
Volte mais vezes. Se desejar resposta individual, deixe seu e-mail.
De todo modo, identifique-se, para facilitar o direcionamento da resposta.