Nesta segunda-feira (pela versão oficial) ou nesta terça (pela versão real), completam-se 50 anos do golpe militar de 1964, que mudou a vida do Brasil e de milhares de famílias, como a do então presidente da República João Goulart e como a minha.
Não vou repetir a história que há anos escrevo: sobre as prisões que meu pai sofreu, na sede do Dops e no navio Raul Soares, que serviu de presídio político no Porto de Santos em 1964. Deixarei os links para que o leitor possa acessar os textos anteriores.




Quanto a mim, nestes 50 anos que se completam, vejo com certo receio a atmosfera que se apresenta.
Há dez anos, quando foram lembrados os 40 anos do golpe, havia uma ânsia de saber. Fiz várias palestras como convidada (do Sesc, para abrir a exposição itinerante com documentos do DOPS; da UniSantos, na Semana de Serviço Social; da Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo, para falar aos integrantes da Comissão Estadual de Ex-Presos Políticos), escrevi matérias no jornal, fui entrevistada.
Agora, continuo sendo solicitada. Mas ouço e leio absurdos em análises feitas por pessoas que se dizem historiadoras. Fico temerosa em relação à versão que será legada à posteridade.
A exemplo do que ocorreu em relação aos crimes dos nazistas, praticados durante a Segunda Guerra Mundial (chegaram a ser negados por quem não admitia a existência do holocausto), agora está em voga um revisionismo da história da ditadura no Brasil. Primeiro, disseram que aqui a ditadura foi "branda". Agora, alguns têm a audácia de afirmar que a ditadura só durou dez anos.
Essas ideias são absurdas (para dizer o mínimo). Só podem partir de historiadores e jornalistas de gabinete, que não sentiram na pele o que aconteceu neste País, nem souberam ouvir fontes fidedignas. Além disso, não merecem exercer essas profissões. (Brevemente, escreverei sobre o tema).
Já me estendi por demais. Aqui está o link do documentário "O dia que durou 21 anos": http://vimeo.com/75717915
Abaixo seguem minhas postagens anteriores sobre ditadura e o navio-prisão Raul Soares:
1. Minha entrevista sobre censura e ditadura à ECA/USP (partes 1 e 2):
2. Minha entrevista sobre censura e ditadura à ECA/USP (partes 3 e 4):
3. Comissão da Verdade inclui Raul Soares na relação dos centros de tortura do Estado de São Paulo:
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2013/05/comissao-da-verdade-inclui-raul-soares.html
4. Ditadura não começou com o AI-5, mas em 1º de abril de 1964:
5. 41 anos do AI-5 e o navio Raul Soares:
6. Há 48 anos o navio Raul Soares virava prisão no Porto de Santos:
8. A gratidão do médico Thomas Maack:
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2012/11/a-gratidao-do-medico-thomas-maack.html
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2012/11/a-gratidao-do-medico-thomas-maack.html
9. O arquivo secreto do Dops:
10. Ser omisso é ser cúmplice (entrevista que fiz com Celso Lungaretti):
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2011/03/celso-lungaretti-ser-omisso-e-ser.html
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2011/03/celso-lungaretti-ser-omisso-e-ser.html
http://humbertocapellari.wordpress.com/2008/04/03/celso-lungaretti-entrevista-ao-jornal-a-tribuna-de-santos-sp-sobre-o-infeliz-aniversario
11. Ainda a ditadura militar:
http://lidiamaria.melo.zip.net/ditadura/arch2007-08-01_2007-08-31.html
http://lidiamaria.melo.zip.net/ditadura/arch2007-08-01_2007-08-31.html
12. Vladimir Herzog:
http://lidiamaria.melo.zip.net/arch2006-10-01_2006-10-31.html#2006_10-25_12_58_10-102131659-27
http://lidiamaria.melo.zip.net/arch2006-10-01_2006-10-31.html#2006_10-25_12_58_10-102131659-27
13. Anistia:
14. Thomas Maack, médico e preso do Raul Soares:
http://movebr.wikidot.com/maackt:navio-prisao
http://movebr.wikidot.com/maackt:navio-prisao
15. Raul Soares, Um Navio Tatuado em Nós:
http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0181b.htm
http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0181b.htm
16. Comissão da Verdade investiga o navio-prisão Raul Soares:
17. A tortura no porto de santos:
18. As homenagens que Narciso de Andrade me fez:
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2013/09/as-homenagens-que-narciso-de-andrade-me.html
19. Assassinato de Vladimir Herzog completa 38 anos:
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2013/10/assassinato-de-vladimir-herzog-completa.html
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2013/10/assassinato-de-vladimir-herzog-completa.html
20. Vladimir Herzog: a justiça nas mãos de dois juízes chamados Márcio:
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2012/09/vladimir-herzog-justica-nas-maos-de.html
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2012/09/vladimir-herzog-justica-nas-maos-de.html
21. Ditadura militar: uma história invertida
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2010/01/ditadura-militar.html
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2010/01/ditadura-militar.html
22. As abomináveis ditaduras
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2010/02/as-abominaveis-ditaduras.html
23. Para não perder a referência histórica:
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2010/10/para-nao-perder-referencia-historica.html
24. E-mail veicula informação falsa sobre a ministra Dilma Rousseff
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2010/03/e-mail-veicula-falsa-informacao-sobre.html
25. Vinte anos da anistia:
http://lidiamaria.melo.zip.net/arch2006-08-01_2006-08-31.html#2006_08-28_13_34_23-102131659-27
26. Raul Soares (Parecer atestou tortura)
27. O que vivemos hoje é fruto do que aconteceu antes
http://lidiamariademelo.blogspot.com.br/2011/05/o-que-vivemos-hoje-e-fruto-do-que.html
Pois é, querida Lídia. O jornal autor do termo 'ditabranda' é o mesmo que apoiou o golpe. E o historiador caolho a que você se refere está a serviço dessa mídia golpista que passou esses 50 anos impune. Os militares deixaram o poder, mas os jornais estão aí, esperando uma brecha pra dar outro golpe.
ResponderExcluirNos pronunciamentos que fiz esta semana sobre os 50 anos do golpe militar, expressei um incômodo: o revisionismo que vem sendo apregoado por alguns setores da sociedade brasileira.
ResponderExcluirA tônica deles é de que não tivemos um golpe, de que a ditadura foi branda e de que não durou 21 anos. Agora, abro a revista Carta Capital e o filósofo Vladimir Safatle, da USP, fala justamente sobre esse assunto. Isso prova que a mobilização pelo apagamento da História, que tenho apontado e criticado, não é uma impressão minha. Está de fato acontecendo.
E essa estratégia de negar o que aconteceu é, como diz Safatle, "a mais brutal de todas as violências"