Eis o texto que foi publicado na página F-72 do caderno especial que circulou no dia ao aniversário.
A íntegra do texto é a seguinte:
Nos 23 anos em que trabalhei no jornal A Tribuna (de 1º. de
julho de 1988 a 17 de março de 2011), como repórter, subeditora e editora de Local, escrevi, orientei e
editei uma infinidade de reportagens. Difícil é apontar as mais relevantes. Porém,
algumas logo vêm à mente quando faço uma retrospectiva.
Entre elas, figuram as que tiveram como tema a ditadura militar. De alguma forma, essas reportagens ajudaram a manter viva a memória de que no Porto de Santos, em 1964, o navio Raul Soares foi transformado em presídio político e usado para reprimir trabalhadores da região e de outras partes do País. Atualmente, esses textos servem de apoio ao trabalho das Comissões da Verdade (nacional, estadual e municipal).
Entre elas, figuram as que tiveram como tema a ditadura militar. De alguma forma, essas reportagens ajudaram a manter viva a memória de que no Porto de Santos, em 1964, o navio Raul Soares foi transformado em presídio político e usado para reprimir trabalhadores da região e de outras partes do País. Atualmente, esses textos servem de apoio ao trabalho das Comissões da Verdade (nacional, estadual e municipal).
Outra reportagem que não sai da lembrança ocorreu em 9 de junho de 1989, uma
sexta-feira. Eu estava pronta para deixar a Redação, pouco antes das 23 horas,
quando o telefone tocou. Um acidente grave acabara de ocorrer no Km 59 da pista
ascendente da Via Anchieta. Abandonei o plano de ir jantar em um restaurante e
rumei para a estrada com o repórter-fotográfico Rubens Onofre. O repórter
Carlos Eduardo Correia de Souza não estava escalado, mas foi junto.
Como o carro do jornal não pôde entrar na Anchieta, a solução
foi pedir carona ao oficial de uma viatura do Corpo de Bombeiros. Ele concordou
em nos levar na carroceria. Subimos e nos instalamos ao lado dos soldados, numa
espécie de banco, que deixava o corpo inteiro sem proteção. Com a sirene e o
giroflex ligados, o caminhão seguiu em alta velocidade, e eu temi ser lançada
por cima da cabine.
Quando a viatura parou, os bombeiros desceram uma
ribanceira, subiram outra e pularam uma defensa. Eu, Rubens e Carlos Eduardo fizemos o mesmo e
pudemos chegar perto dos veículos acidentados.
A cena nos chocou. Envolto em fumaça escura e tóxica, um
carro de passeio estava incinerado e espremido entre a carcaça de dois ônibus,
que ainda eram devorados por labaredas de fogo. Conseguimos ver apenas a marca
do carro. Era Volkswagen. Dentro, havia três pessoas carbonizadas. No dia
seguinte, soubemos que dois eram funcionários da Refinaria Presidente
Bernardes, em Cubatão, e o terceiro, motorista de uma empresa de transportes.
A matéria que escrevi foi manchete da primeira página, junto
com duas fotografias feitas por Rubens Onofre. Missão cumprida, fiquei em
choque e emudecida. Não parava de pensar
na dor que as famílias daquelas três pessoas iriam sentir e em como elas
perderam a vida, de modo tão trágico e banal, num piscar de olhos.
PersonalidadesAs recordações envolvem ainda reportagens com personalidades. Uma delas, o educador Paulo Freire, que eu entrevistei com a repórter Fátima de Azevedo Francisco. Outra, um dos maiores nomes da medicina sanitarista do Brasil, David Capistrano Filho, que comandou a Secretaria de Saúde e a Prefeitura de Santos. Entrevistei Capistrano muitas vezes e passei a admirá-lo por sua inteligência e história. E ele me deu a honra de comparecer à noite de autógrafo de meu livro Raul Soares, Um Navio Tatuado em Nós, em 22 de novembro de 1995.
PersonalidadesAs recordações envolvem ainda reportagens com personalidades. Uma delas, o educador Paulo Freire, que eu entrevistei com a repórter Fátima de Azevedo Francisco. Outra, um dos maiores nomes da medicina sanitarista do Brasil, David Capistrano Filho, que comandou a Secretaria de Saúde e a Prefeitura de Santos. Entrevistei Capistrano muitas vezes e passei a admirá-lo por sua inteligência e história. E ele me deu a honra de comparecer à noite de autógrafo de meu livro Raul Soares, Um Navio Tatuado em Nós, em 22 de novembro de 1995.
Por causa desse livro, fui notícia algumas vezes em A
Tribuna. No lançamento, minha foto foi publicada na primeira página. Recebi o
mesmo espaço quando conquistei o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia
e Direitos Humanos em outubro de 1997.
Ter ajudado a escrever a história deste jornal, durante 23 de seus 120 anos, junto com os colegas de Redação, as fontes e os leitores, foi para mim uma experiência profissional muito importante. Inesquecível.
Ter ajudado a escrever a história deste jornal, durante 23 de seus 120 anos, junto com os colegas de Redação, as fontes e os leitores, foi para mim uma experiência profissional muito importante. Inesquecível.
Lídia Maria de Melo (repórter, subeditora e repórter, de 1º. de julho de 1988 a 17 de março de 2011) – jornalista, professora dos cursos de Comunicação da UniSantos e escritora.
Nota: por falta de espaço, no momento da edição, precisei cortar o seguinte trecho do texto: "Um ponto negativo
dessas recordações envolve a edição de
matérias que informavam a morte de alguns colegas de profissão, como Zêgo
(Evêncio da Quinta, que era cronista de A Tribuna, que escrevia a coluna Pois
É), Mingo Duarte (repórter-fotográfico), Lydia Federici (cronista), Áureo de
Carvalho (repórter), Carlos Alberto
Manente (diretor de jornalismo da TV Tribuna), Murillo Ferreira Filho
(meteorologista da A Tribuna), Tadeu Ferreira (subeditor de Cidades) e Anésio
Borges (repórter-fotográfico). Não é bom noticiar a morte de parceiros de
trabalho."
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