terça-feira, 22 de junho de 2010

Mulher e Copa do Mundo



Seleção Brasileira de Futebol de 1970
Lídia Maria de Melo
Copa do Mundo é sempre a mesma história: mulher não entende de futebol!
Não sei se entendo, mas tenho memória de jogos de Copa.
A mais remota é de 1966. Jogo acompanhado pelo rádio.
Eu era muito menina e só me lembro de que foi na Inglaterra e, no jogo entre Brasil e Portugal, os jogadores lusitanos ‘’batiam’’ demais no Pelé. Placar: eles ficaram com 3 e nós, com 1 e voltamos para casa.
Na Copa seguinte, em 1970, a história foi outra. Todo mundo cantava: ‘‘Noventa milhões em ação/ Pra frente Brasil, do meu coração...’’
A Seleção Eterna (Félix, Pelé, Tostão, Rivelino, capitão Carlos Alberto, Everaldo, Jairzinho, Gérson, Piazza, Brito, Clodoaldo, liderados por Mário Jorge Zagallo) conquistou definitivamente a Taça Jules Rimet pelo tricampeonato, no Estádio Azteca, na Cidade do México, depois de ter encantado também a torcida em Guadalajara.
Como vivíamos uma ditadura, muita gente torcia o nariz para a conquista porque o governo militar, na época representado por Emílio Garrastazu Médici, tirou proveito.
Toda vez que Jairzinho fazia um gol, minha irmã mais nova, de 6 anos, gritava: _ Jairzinho é meu time!
Meu pai era fã incondicional do Gérson, o Canhotinha de Ouro.
No último jogo, entre Brasil e Itália, foram quatro gols brasileiros. O último, de Carlos Alberto. Pelé deixou para o capitão do time, para que ele também marcasse o seu. Carlos Alberto correu pela lateral direita e estourou a rede. O locutor Geraldo José de Almeida bradava: ‘‘Olha lá, olha lá, olha lá, no placarrrr'' ou ''Olha lá, olha lá, olha lá, no barrrbante: Brasil!!!’’
Quando ninguém marcava, o grito dele era: ‘‘Por pouco pouco, muito pouco, pouco mesmo!!!’’
Outras imagens são o Carlos Alberto erguendo a Jules Rimet, os mexicanos carregando o Pelé, de sombreiro, nos ombros... A recepção dos jogadores que desfilaram, como heróis, em carro do Corpo de Bombeiros.
Em 1974, foi aquela decepção. Perdemos! Foi a Copa da Laranja Mecânica ou Carrossel Holandês. Em 1978, só me lembro do 0x0 contra a Argentina. Eu voltava do Rio de Janeiro e o condutor do metrô, em São Paulo, de vez em quando repetia: zero a zero!
Nas de 1982 e 1984, não houve cenas dignas de recordação. Um nome ainda merece menção: o então goleiro da Itália, Dino Zoff, que disputou sua quarta e última Copa em 82, como o goleiro mais velho em campo, e que levantou a taça.
A de 1990 só me faz lembrar Roger Milla, da República de Camarões. Na época, estava com 38 anos. Em 1994, jogou aos 42 anos. 

Já a Copa de 1994, nos Estados Unidos, deixou várias lembranças.
A Seleção Brasileira de Futebol conquistou o tão esperado tetracampeonato após 24 anos de ter sido tri no México. Venceu a Itália nos pênaltis.
Para a maioria dos torcedores, a imagem que ficou gravada foi a do goleiro Tafarell erguendo os braços para o céu, em sinal de agradecimento. Ao fundo, o italiano Roberto Baggio, com as mãos na cintura e o cabelo em trança, mirava o gramado, desolado por ter perdido o pênalti que garantiu a vitória do Brasil. Deu um chute jornada nas estrelas.
Baggio tinha sido eleito pela Fifa o melhor jogador do mundo em 1993.
Naquele campeonato nos Estados Unidos, se não fosse por ele, a Itália teria voltado para casa nas oitavas-de-final, no jogo contra a Nigéria. Essa é a lembrança que tenho de Roberto Baggio. Para mim, uma das mais marcantes da Copa de 94.
Eu passeava em um shopping e passei a acompanhar o jogo pelo telão. A Nigéria vencia a Itália por 1x0. Os italianos não apresentavam preparo físico. Os nigerianos davam ‘olé’ já nos últimos instantes do segundo tempo. Foi aí que o Baggio roubou a bola quase que no meio do campo e disparou em direção ao gol. Não deu outra. Empatou aos 43 minutos do segundo tempo. O jogo foi para a prorrogação e um outro Baggio, o Dino, marcou para a Itália. Resultado: por ingenuidade, a Nigéria, cujo time foi apelidado de Os Águias, voltou para casa.
Na final entre Brasil e Itália, os italianos perderam para o desgaste físico. Caíam de cãibra.
Já o argentino Maradona foi pego no teste antidoping e acabou expulso da Copa.
No jogo realizado em 4 de julho, o lateral brasileiro Leonardo deu uma cotovelada em um jogador americano, que o mandou para o hospital.
Nesse campeonato, também ocorreu uma tragédia. Não nos Estados Unidos, mas na Colômbia. Depois que a seleção colombiana foi desclassificada e voltou para casa, o zagueiro Andrés Escobar, de 27 anos, foi assassinado em seu país. Ele havia marcado um gol-contra no jogo entre o time colombiano e o dos Estados Unidos, que teve o placar de 2 a 1, para os americanos. Coincidência ou não, outro jogador de sobrenome Escobar (Bernardo de Jesús) e 27 anos foi morto na mesma noite. Só que esse jogava futebol de salão. Os dois crimes ocorreram perto de Medellín.
Em 1998, trágica foi a atuação do Brasil na final contra a França. O que ocorreu com o Ronaldo dito Fenômeno, que eu sempre chamei de Boneco de Pebolim, nunca chegaremos a saber. Melhor nem comentar!
Em 2002, a nota triste não ocorreu na Coreia nem no Japão, mas em Belo Horizonte. Depois de escrever uma crônica sobre o jogo que o Brasil realizaria contra a Inglaterra, o jornalista Roberto Drummond teve um ataque cardíaco e morreu. Ele ficou conhecido no Brasil inteiro depois que seu romance ‘‘Hilda Furacão’’ foi adaptado para uma minissérie da Rede Globo. Eu o conheci no Rio de Janeiro, em 1985, em um congresso de literatura. Ele havia lançado ‘‘Hitler Manda Lembranças’’, depois de ‘‘Sangue de Coca-cola’’, que eu tenho autografado por ele. Conversamos demoradamente.
Quando esteve em Santos, um ano antes de sua morte, para lançar o ‘‘Cheiro de Deus’’, escrevi um artigo sobre ele e publiquei no jornal A Tribuna. Gostava dele.
Fanático por futebol, não chegou a ver o Brasil ganhar da Inglaterra por 2x1. Os jogos eram de madrugada ou de manhãzinha. No final de sua última crônica, para o jornal O Estado de Minas, ele escreveu: “Mais do que nunca, gostaria de ter uma bola de cristal ou os poderes de vidente de minha amiga madame Janete só para saber quem venceu, se a Seleção de Ronaldinho, se a seleção de Beckham’’.
A Copa de 2002 foi a do ânimo, o do Felipão, que não deu moleza para jogador manhoso como alguns que temos. Já o sr. Parreira... Só com ele o Ronaldo, que era Ronaldinho e virou Ronaldão, tem fricote em dia de jogo. Chama o Felipão!!!

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