Dois juízes. Dois Márcios.
Com a diferença de 34 anos, dois magistrados chamados Márcio ajudaram a fazer justiça e a mudar parte da História do Brasil, em relação aos fatos que envolveram a morte do jornalista Vladimir Herzog.
Vlado morreu sob tortura, aos 38 anos, em 25 de outubro de 1975, nas dependências do Departamento de Operações de Informações e Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), órgão de repressão do Exército Brasileiro em São Paulo. O laudo médico, assinado pelo legista Harry Shibata, atestou que ele havia cometido suicídio por enforcamento.
Em 25 de outubro de 1978, exatamente três anos depois, o juiz Márcio José de Moraes sentenciou que a União era culpada pela prisão, tortura e morte do jornalista. Além disso, ele anulou o laudo emitido por Shibata.
Antes dele, o juiz João Gomes Martins, da 7ª Vara da Justiça Federal de São Paulo, fora impedido, por uma manobra dos militares, de sentenciar sobre o caso. Primeiramente, um mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público inviabilizou seu parecer. Na sequência, começaram as férias forenses. Quando o tribunal reabriu, Martins foi aposentado compulsoriamente, porque completara 70 anos em 2 de agosto.
Coube a Márcio José Moraes, de 33 anos, fazer valer a justiça. Ainda durante a vigência do Ato Institucional (AI) nº 5, que retirou dos cidadãos brasileiros quase todos seus direitos civis e legais, ele redigiu e assinou o corajoso veredicto.
Ontem, 24 de setembro de 2012, 34 anos depois, o juiz Márcio Martins Bonilha Filho, da 2ª Vara de Registros Públicos do Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo, determinou a retificação do atestado de óbito de Vlado.
Assim, passará a constar no documento que a morte do jornalista “decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (DOI-Codi)”.
A alteração foi solicitada ao TJ pela Comissão Nacional da Verdade, criada para esclarecer as violações de direitos humanos no período da ditadura militar. O pedido à comissão partira da viúva, Clarice Herzog, a mesma citada na música O bêbado e o equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc ("Choram Marias e Clarices no solo do Brasil").
Como já escrevi em meu antigo blog, "em 1997, tive o orgulho de receber, com o conto Bala Perdida, o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog, na
categoria Literatura, concedido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do
Estado de São Paulo e pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Na cerimônia realizada no Parlatino, no Memorial da América Latina, que contou com a presença de meus
pais, fui apresentada a personagens dessa História: Clarice Herzog e o filho Ivo, que estavam acompanhados pela viúva de Carlos Marighella,
Clara Charf.
A sentença do juiz Márcio José de Moraes, em 1978, e a de seu colega Márcio Martins Bonilha Filho ajudam a reforçar o compromisso de luta pela defesa dos direitos humanos e da democracia no País.
Um impediu que uma farsa se perpetuasse. Agora, o outro garante que esse episódio da História do Brasil seja passado a limpo.
Aqui há diversidade: Jornalismo, Literatura (minha e alheia), História (ditadura militar),Língua Portuguesa, Linguística, Saúde (Lúpus), Música, Cinema, Esportes, Santos FC, Cidade de Santos, Porto de Santos, Natureza e mais. Na base de tudo, o pensamento do escritor argentino Ernesto Sábato: ''Na vida, tudo pede paixão''. Quanto a direitos autorais, não reproduza textos, fotos e vídeos sem autorização. Mesmo autorizado, cite meu nome como autora e o blog - Lei 9.610/98.
Marcadores
- Animais
- Cidade
- Cinema/Série/TV
- consumidor
- conto
- Direito
- direitos humanos
- Ditadura militar
- Ecologia
- Educação
- Esportes
- Fotografia
- Futebol
- História
- Informática
- jornalismo
- Justiça
- Língua Portuguesa
- Linguagem
- Linguística
- literatura
- lúpus
- mar
- Meio ambiente
- música
- natureza
- Navio-presídio Raul Soares
- pássaro
- patrimônio
- Poesia
- Política
- Porto de Santos
- publicidade
- Religião
- Santos
- Santos Futebol Clube
- saúde
- Tecnologia
- Viagem
- zVários
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Vladimir Herzog: a justiça nas mãos
de dois juízes chamados Márcio
Marcadores:
Clarice Herzog,
Comissão Nacional da Verdade,
DOI-Codi,
João Gomes Martins,
Justiça,
Márcio José Morais,
Márcio Martins Bonilha Filho,
Prêmio Vladimir Herzog,
Vladimir Herzog
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Justiça seja finalmente feita. Tortura, nunca mais. Belo texto, Lídia. Um grande e fraterno abraço.
ResponderExcluirAinda bem que a justiça prevaleceu, embora tarde. Meu abraço.
ResponderExcluir