Alguém já observou como, com raras exceções, atendentes de hospitais, clínicas e consultórios médicos costumam proceder quando dão alguma guia ou outro documento para um cliente assinar?
Se o tal cliente tem o hábito de ler antes o que está prestes a assinar, elas se apressam em apontar com o dedo indicador o local onde a assinatura deve ser grafada. Parece que o cidadão (ou cidadã) não é capaz de discernir onde dar o seu aval.
Quando me deparo com esse tipo de situação, invariavelmente desaponto as atendentes. Detenho-me diante dos formulários e faço uma leitura dos dados. Passados poucos segundos, elas indicam o lugar onde assinalaram um xis, acreditando que estou perdida. ''É para assinar aqui''.
Assinto com um leve movimento de cabeça e explico: ''Eu sei. Só estou lendo antes de assinar''.
Normalmente, elas ficam sem graça. Afinal, não é assim que todo cidadão deveria proceder, se elas não apressassem tanto?
Por isso, não me espanta que uma moradora de Bertioga possa ter assinado uma autorização para cirurgia de seu filho, sem atentar que o formulário estava preenchido errado. Em vez de cisto na boca, poderia constar no documento hérnia umbilical no local da especificação do procedimento.
Não sei se é verdadeira essa versão dos médicos em relação ao formulário. Se for, certamente, a mãe estava preocupada em sair logo do balcão e dar assistência ao seu filho. Além disso, a funcionária da recepção deve ter ''ordenado'' que ela assinasse no local previamente indicado. E, de preferência, sem demora, para não atrasar o atendimento aos inúmeros outros pacientes que deveriam estar à espera de internação.
Pensei nisso quando assisti à entrevista coletiva de três médicos que representavam o hospital onde o erro foi cometido. O trio defendia a colega cirurgiã, que não apareceu em público para se explicar.
Seus companheiros encarregaram-se de acusar a mãe de se confundir em relação ao diagnóstico da doença do filho. E garantiram que ela sabia da natureza da cirurgia e que assinou a autorização. O diretor do hospital assumiu uma postura de pretensa superioridade ao afirmar que a mãe é uma ''pessoa de pouco entendimento''.
Mesmo que a mãe não tenha um grau de instrução elevado, como sugeriu o médico (eu nem sei se é esse o caso), ela sabia do que o filho se queixava. E não iria se enganar: seu menino tinha um cisto na boca que precisava ser retirado.
Só por isso, já sou solidária a ela.
Mas a outra razão para que minha balança penda para o lado dessa mãe é definitivamente a forma como os formulários são apresentados aos clientes, sem que eles mal tenham chance de ler.
Acredito que, em nenhum momento, esse aspecto tenha sido considerado durante a investigação do caso. Mas certamente deveria ser.
Muitos outros erros médicos poderiam ser evitados e outras mães não teriam sua capacidade de entendimento subjugada.
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domingo, 6 de março de 2011
É para assinar aqui. Ordem da atendente
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