quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Crônicas de Rubem Braga são megaliteratura

Rejeito esse tipo de pergunta: ''De quem você gosta mais? Da mamãe ou do papai?'' E qual seu prato predileto? E o livro? E a música?
Por que forçar uma criança a ter preferência entre as pessoas que a trouxeram ao mundo? Por que ter predileção por um prato quando há tantas iguarias saborosas distintas umas das outras? Em meio a uma infinidade de livros bem-escritos e que podem ser considerados clássicos, mesmo com histórias desconhecidas da maioria das pessoas, por que é necessário indicar um único? E a música então? Somente no Brasil, a relação de composições supremas excede o limite da minha memória. Se incluir as estrangeiras, o rol torna-se astronômico. As possibilidades são tantas, por que me contentar somente com uma?
Sou eclética. Meus gostos não cabem em espaços segregados. Mesclam-se.
No domingo, o jornal Folha de S. Paulo trouxe as indicações de um seleto grupo de personalidades em relação a livros. O nome de Rubem Braga apareceu repetidamente na lista de alguns.
Apesar de não gostar desse tipo de escolha, fiquei satisfeita. Rubem Braga figura eternamente entre os escritores por quem devoto infindável admiração.
No meu blog antigo, já escrevi sobre ele algumas vezes.
Já que estamos encerrando o ano, vou reafirmar meu apego à obra do bruxo de Cachoeiro de Itapemirim. Aqui, reproduzo o texto publicado em 27 de agosto de 2006:

As crônicas de Rubem Braga


(...)Como a madrugada vai alta e uma dor na coluna me incomoda sobremaneira, não vou me estender. Mas faço questão de frisar: quem nunca leu Rubem Braga não pode deixar para depois.
Meus primeiros contatos com sua obra ocorreram quando eu era criança, lá pelos 7 anos de idade. No meu livro de 2ª série do antigo curso primário (hoje, ensino fundamental), havia a crônica
''Duas meninas e o mar''. Releio-a de vez em quando no livro ''200 Crônicas Escolhidas'', lançado pela Editora Record em 1978. Foram textos selecionados, pelo próprio Rubem com a ajuda de Fernando Sabino, de seus oito primeiros livros.
Outra de que sempre me lembro é
''O afogado'', que conta a história de um homem que quase morre em uma movimentada praia do Rio. Depois de toda a angústia de lutar contra as ondas, ele consegue chegar a uma pedra. Ninguém na areia havia percebido seu desespero, por isso, quando alguém grita para que ele saia daquele lugar, porque é perigoso, ele apenas sorri, como se dissesse que, depois do que havia enfrentado, aquele local era um paraíso. A pessoa era bem-intencionada, mas não sabia de nada!
Uma outra é a que fala dos passarinhos que ele doou. Sentia falta deles, mas também estava aliviado por não ter mais responsabilidade com horários de alimentação, cuidados especiais e outras atenções que um bicho de estimação exige. Então, ele conclui mais ou menos assim: ''Estou mais só, mas estou mais livre''.
''As boas coisas da vida'', lançada em 1988, pela Editora Record, também é outra obra que recomendo. Tem crônica para Rita Lee e Amir Klink. Não estou certa, mas acho que dei esse livro por engano. Se ocorreu mesmo, vou comprar outro exemplar.
Na semana passada, redescobri em minha estante
''Um cartão de Paris'', que reúne crônicas publicadas por Rubem Braga no jornal O Estado de S. Paulo no último período de sua vida, de 1988 a 1990. Os textos foram selecionados pelo crítico literário Domício Proença Filho, a pedido do filho do cronista, Roberto Braga. A orelha foi escrita pela também espetacular escritora Ana Maria Machado, que confessa ter sido influenciada por Rubem a começar a escrever. Há tantas delicadezas nessas crônicas que fica difícil citar exemplos. Mas vou tentar.
Na crônica que dá nome ao livro, ele conta sobre um cartão enviado por uma nova amiga que está em Paris. O gesto faz com que ele se esqueça das coisas ruins que o incomodam. ''Mas como é fácil alegrar meu coração!'', diz em um trecho. Em outro, acrescenta: ''Essa delicadeza gratuita me faz bem. Ganhei o dia, a noite, já não me sinto mais sozinho na varanda triste''.

ASSISTA ao vídeo Um Cartão de Paris, no meu canal no Youtube: 
https://youtu.be/mHo9BOxF8ag.
Também veja o vídeo sobre as características do gênero jornalístico crônica. Clique neste link: https://youtu.be/4GmfWlJSaiE

Nascido em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, em 12 de janeiro de 1913, Rubem Braga morreu em 1990, depois de ter sido, além de cronista, jornalista que cobriu a Segunda Grande Guerra. Ele sempre soube transformar acontecimentos mais corriqueiros do dia a dia em verdadeiras preciosidades.
Muita gente não sabe definir se crônica é jornalismo ou literatura. Há quem defenda que é um gênero que está no limiar das duas categorias. E existem também os que a classificam como subliteratura. Para mim, as crônicas de Rubem Braga são megaliteratura.
Observação: Um pouco da obra do jornalista-escritor pode ser lido no site Releituras .

P.S1.: Não dei ''As boas coisas da vida''. Reencontrei-o na estante. Foi presente de um ex-namorado.
P.S2.: Marco Antônio de Carvalho publicou pela Editora Globo, em 2007, a biografia Rubem Braga _ Um cigano fazendeiro do ar.
P.S3.: Marco Antônio de Carvalho morreu em 2007, aos 57 anos, antes do lançamento do livro.

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3 comentários:

  1. Rubem Braga foi um gênio, sem dúvida. E não sabia que era nativo da terra do Rei Roberto Carlos. Pelo visto, Cachoeiro de Itapemirim deve ter algo especial para a Cultura do País

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  2. Olá,

    Não poderia estar mais de acordo...

    Bom ano!!

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  3. Cheguei ao seu blog por puro acaso.
    Vou agora frequentá-lo, porque um
    admirador de Rubem Braga, é alguém
    com muita sensibilidade e bom gosto literário.
    Tenho quase todos os livros dele e me comovo com a forma que ele usava para ver o mundo e setí-lo. Seus textos são cheios de lirismo sem jamais esbarrar na pieguice. Viva Rubem Braga! Sempre!

    Grande abraço!

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