
Se eu pudesse parar o tempo, congelaria o instante em que ele batia asas, deixando transparecer aquele vermelho vivo entre as penas escuras.
Faria ao menos uma fotografia ou uma filmagem, para poder replicar aquele prazer momentâneo, que agora só tenho em minha memória.

Ele estava com duas crianças pequenas. Imediatamente, pensei: que perigo!
Até bem pouco tempo atrás, era comum as pessoas usarem corrente de ouro. Ouro dezoito quilates! Cada uma a seu gosto. Corrente com crucifixo, com medalhinha do santo ou santa de devoção, com pingente de olho grego(azul bonito!),com pedra preciosa ou semi, com pérola, com bonequinhos indicando a quantidade de filhos, com o nome do bem-amado, com o próprio nome, com figa contra mau-olhado, com chavinha, com coração ou com outro penduricalho.
Ouro é um elemento da natureza que combina com todos os tons de pele e, antes de ostentação, é um enfeite que sempre concedeu ao portador uma certa dose de elegância.
De um certo tempo para cá, andar pelas ruas portando algum ornamento de ouro passou a significar risco de alto grau. Ouro virou imã, objeto magnético que atrai um ser que não se contenta em subtrair o que não lhe pertence. Se levasse somente a joia, ainda restaria um lucro. Iriam os anéis, mas ficariam os dedos. O problema é que, por causa de um enfeite de ouro, ele nos rouba o único bem de fato valoroso. A vida.
Na caminhada de hoje, a visão de uma corrente de ouro no pescoço de um homem surpreendeu-me tanto quanto a do pássaro de peito vermelho. Duas situações raras numa manhã de sábado de céu nublado e brisa fria soprando do mar.
Por algum momento achei que seria uma analogia do vermelho do peito do pássaro com o sangue que a corrente de ouro pode trazer...
ResponderExcluirSem dúvida esse será um dos maiores problemas que terei que enfrentar quando voltar ao Brasil: me acostumar com a falta de liberdade.
Uma manhã de sábado como as outras, talvez muita gente tenha visto o pássaro e o homem com a corrente de ouro. Mas certamente só você teve olhos pra fazer destes prosaicos achados um belo texto. Um beijo e boa semana, Lídia.
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