Foto Lídia Maria de Melo
Uma vez compus uma música e participei de um festival. Quando leu no jornal o título da canção, meu pai achou que a letra tinha sido feita para ele. Não era. Eu tinha escrito para meu namorado da época.
Há poucos anos, escrevi um conto. Quando foi publicado, minha mãe achou que a história falava sobre ela. Nada a ver. A personagem havia sido inspirada em uma conhecida.
Em outra ocasião, ao ler um outro conto meu, uma amiga me telefonou para dizer que identificara uma das personagens. Para ela, se tratava de uma conhecida nossa. Pura coincidência.
O compositor Chico Buarque tem várias músicas com foco narrativo feminino. Ele expressa as emoções de mulheres. Chico se coloca no lugar da personagem feminina e narra uma história sob o ponto de vista dela. Ele convive com mulheres e tem capacidade para retratar seus sentimentos. Também se baseia nos enredos das peças e dos filmes que receberão sua trilha sonora.
Gosto de escrever dessa forma também. Faço poemas ou contos com o foco narrativo masculino. Para mim, é fácil. Em algumas situações, imagino um homem falando de seus sentimentos para mim. E assim nasce um poema ou um conto. Como se fosse um homem que escreve a respeito de uma mulher.
Muitas outras histórias e poemas são inspirados em situações que não vivi, mas imaginei, ou ouvi, ou li, ou testemunhei.
Enfim, a imaginação voa livre na cabeça de quem lida com arte. Neste caso, a da palavra.
Por isso, um texto é metade de quem escreve e metade de quem lê. Quando o escritor redige, ele tem uma intenção, um contexto. A pessoa que lê pode atribuir outros sentidos ao texto, dependendo de suas referências.
Depois que é publicado, o texto ganha vida própria e se desprende do criador. Os sentidos crescem a seu redor. Cada um entende como quer. E até se acha o protagonista dele.
Ao escritor, só cabe respeitar essas interpretações diversas, mesmo que sua intenção e sua inspiração não tenham, a princípio, qualquer relação com a vida do leitor.
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