Outro dia, uma pessoa de minha família mandou aviar uma receita médica e, quando pegou os medicamentos, pediu-me para conferir se tinham sido preparados com as quantidades especificadas pelo médico. Pasmei! Não dava para entender nada do que estava prescrito. A letra do médico era simplesmente indecifrável.
Não tive dúvida. Mandei a ele um e-mail, indicando cada componente da fórmula que a farmácia utilizou no preparado. Solicitei que confirmasse se eram aqueles mesmos. Não deixei de citar que minha dúvida fora motivada pela letra ilegível dele.
Dois dias depois, recebi a resposta, confirmando a correção. No final do texto, no entanto, ele disse que jamais receitaria medicamentos que fossem complicar o estado do paciente. Eu retornei, com a frase: ''O dia a dia nos ensina que todo cuidado é pouco''.
Na verdade, eu gostaria de ter sido mais explícita: ''Sua letra deveria ser legível, conforme determina a legislação vigente no País''. Mas precisei usar de meias palavras, porque esse familiar continuaria sendo atendido por ele e não poderia correr o risco de se tornar alvo de hostilidade, por exemplo.
Em outra ocasião, um outro parente não pôde fazer um exame porque as funcionárias do laboratório não entenderam a letra do médico. Esse familiar sabia o nome do exame, mas o laboratório não aceitou fazer assim mesmo, alegando que não se responsabilizaria no caso de um engano.
Só não foi preciso retornar ao médico, porque um outro laboratório se propôs a realizar o exame, confiando na informação desse meu familiar. Se houvesse um erro, o paciente seria o prejudicado.
Quando um médico prescreve medicamentos ou solicita exames com garranchos, em vez de letras, expõe seu paciente a uma situação constrangedora e perigosa.
Constrangedora, porque o paciente não se sentirá à vontade para pedir ao médico que escreva melhor. E porque, ao mesmo tempo, estará se violentando, se deixar de expressar seu direito. Perigosa, porque o farmacêutico poderá não entender a letra e trocar o remédio, ou ainda utilizar um componente errado na fórmula manipulada. O profissional da medicina que não atenta a esses aspectos está sendo prepotente, irresponsável e descumpridor da lei.
Foto Kimberly Clark Health Care |
Uma nova troca de curativo foi marcada para a semana seguinte. Se houvesse necessidade de antecipar, ele aconselhou-a a procurar o pronto-atendimento do convênio médico. Fez isso. E qual não foi sua surpresa? A médica que a atendeu colocou luvas para trocar o curativo. Já a auxiliar (do setor de enfermagem), muito antipática, por sinal, não estava de luvas.
Dessa vez, minha parente não se intimidou. Pediu que ela colocasse as luvas para trocar o curativo. As duas saíram da sala. A médica retornou sem as luvas e fez o curativo.
Ou seja, de que adianta haver uma campanha nacional para que os médicos lavem as mãos, usem álcool gel a 70%, para evitar infecção por bactérias? De que adianta o paciente estar bem-informado? O pessoal da área de Saúde parece continuar alheio às informações!
No dia dessa pequena cirurgia, o médico prescreveu um antibiótico. Foi informado de que a paciente não poderia tomar devido a alergia. Ele perguntou: _Então o que vou lhe dar?
A paciente disse o nome de outro antibiótico que tomara recentemente sem problemas. Ele disse que então ela poderia tomar esse se achasse melhor. Ela rebateu com o argumento de que ele precisaria prescrever, porque a Anvisa determinou que os antibióticos sejam vendidos sob controle, com receita em duas vias. Uma delas será retida pela farmácia.
O médico disse que desconhecia aquela informação, como se a paciente estivesse falando bobagem. Naquele mesmo dia, as novas normas foram publicadas no Diário Oficial da União.
No início de outubro, fui fazer fisioterapia pós-operatória no pé esquerdo e precisei passar pelo turbilhão. Bastou uma sessão para que eu decidisse não mais retornar. A água utilizada no turbilhão não é trocada. Todos os pacientes colocam pés e mãos no mesmo lugar, sem que a água tenha ao menos cloro. Com isso, estão sujeitos a adquirir doenças, como frieiras, só para ficar em um exemplo bem simples. Isso, num pós-operatório, pode ter consequências graves.
Essa sequência de problemas transmite a sensação de impotência. Mesmo para quem se mantém informado e costuma cobrar seus direitos, como nós, jornalistas.
Que bom se todo profissional de Saúde se colocasse no lugar do paciente. Certamente, os cuidados seriam redobrados e haveria menos riscos e infecções.
P.S.: No próximo post, alguns cuidados para evitar infecção hospitalar.
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