A frase que inicia meu post anterior poderia servir para começar este outro. ''A seleção de futebol alemã de 2010 é a melhor resposta'' às provocações da equipe argentina ao escrete brasileiro.
Quando o Brasil perdeu de 2x1 para a Holanda na sexta-feira, Maradona festejou e tripudiou em cima de nosso sofrimento, assim como o povo argentino.
Sei que tudo isso é brincadeira de futebol. Admiro a Argentina. Gosto do povo, da música, do cinema, da história, da raça dos argentinos. Mas, ontem de manhã, a Alemanha lavou nossa alma. Levou 190 milhões de brasileiros a gritar gol com a mesma emoção de quando veem a Seleção Canarinho balançar a rede do adversário.
O time liderado por Muller, Podolski e Klose fez Maradona tomar um chocolate. Um chocolate misturado ao mesmo veneno que ele destilou contra nós, brasileiros. Os germânicos puseram de quatro nossos arquirrivais vizinhos.
Uma padaria de Santos expôs um boneco produzido à semelhança do técnico que um dia foi beneficiado com la mano de Dios. Durante todo o dia, pessoas tiravam fotos com o boneco.
O Jornal da Tarde publicou a melhor primeira página sobre a desclassificação do Brasil e anunciando o jogo Alemanha x Argentina.
Na metade de cima da página, uma foto da arquibancada do Estádio Nelson Mandela, em Port Elizabeth, mostra cadeiras laranjas vazias e um solitário torcedor enrolado na bandeira brasileira com a mão nos olhos, talvez escondendo o choro. Por cima da imagem, o título: Nem tudo está perdido. Abaixo da dobra, uma foto recortada de Klose comemorando um gol e o título: Às 11 h, seremos 190 milhões de alemães (ver a foto acima).
Foi justamente o que fizemos. De repente, nos tornamos germânicos desde criancinhas. Está certo que o time comandado por Joachim Löw comoveu todas as pessoas que gostam de futebol e tiveram o privilégio de assistir àquele jogo.
Atualmente, os germânicos miscigenados trazem em seus códigos genéticos uma habilidade e agilidade que nos deixam boquiabertos. Mas o que esse grupo nos proporcionou foi a possibilidade de revidar as provocações de Maradona no dia seguinte. Após a vitória alemã, nem nos lembrávamos mais de que na sexta-feira choramos ao ver o Brasil se desmoronar diante da primeira adversidade em campo.
Aliás, já está na hora de dar minha opinião sobre a derrota do time brasileiro.
Acho que a equipe de Dunga jogou bem no primeiro tempo, fez um gol e, se continuasse naquele ritmo, venceria a Holanda com facilidade. O problema é que o treinador holandês, Bert van Marwijk, chamou seus jogadores às falas no intervalo e instigou seus brios.
No vestiário brasileiro, a certeza da vitória devia estar imperando.
Na volta ao segundo tempo, no primeiro gol em favor do adversário (na verdade, marcado por Felipe Melo aos 8 minutos), os canarinhos se desestruturaram. Comportaram-se como se estivessem perdendo, quando o jogo somente empatara. E havia ainda mais 37 minutos de partida.
Faltou um treinamento para a adversidade. Faltou um capitão que reorganizasse a equipe e transmitisse segurança, da mesma forma como eles fazem em um comercial de cerveja. ''Guerreiro não abandona guerreiro''. Não é assim o slogan?
Mas os guerreiros se esqueceram de que ainda podiam lutar, de que não precisavam baixar a cabeça. Eles são pentacampeões. Ninguém mais. Poderiam recuperar o domínio de bola, cavar brechas entre a marcação fechada do adversário. Não cair nas encenações de faltas. Afinal, a Holanda não é uma Alemanha. E mesmo que fosse. Até a Alemanha perdeu de 1x0 para a Sérvia, depois de ter estreado no Mundial também com placar de 4x0 contra a Austrália.
Para mim, o Brasil não perdeu porque a Holanda jogou melhor. O Brasil foi vencido por seu desequilíbrio emocional diante de uma situação inesperada.
Na entrevista coletiva, Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga, confirmou minha desconfiança, quando disse: ''Ninguém prepara o time para perder, prepara sempre para ganhar''.
Desculpe-me, Dunga, dizem que mulher não entende de futebol, mas isso não vale apenas para o esporte, serve para a vida de qualquer um: quem não tenta aprender com os erros e não admite a possibilidade de um dia se deparar com uma eventual dificuldade, pode não conseguir se superar, ou, como se diz na gíria, dar a volta por cima.
Da próxima vez que for comandar uma equipe, Dunga precisará se lembrar de que em uma partida existe sempre o adversário. Se quiser vencer, terá de pensar que existem chances de perder. E, se desejar superar as dificuldades, antes, será preciso aprender a sair delas. Para isso, um pouco de autocontrole não fará mal a ninguém.
O desequilíbrio emocional é sempre um considerável inimigo.
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