domingo, 11 de novembro de 2012

TV Tribuna exibe reportagem sobre o navio
Raul Soares, prisão flutuante da ditadura

No último dia 2, fez 48 anos que o navio Raul Soares foi levado embora do Porto de Santos. A embarcação ficou ancorada no canal do estuário, perto da Ilha Barnabé. Serviu de cárcere para presos políticos de 24 de abril a 23 de outubro de 1964. A ditadura militar começou naquele ano e só terminou em 1985.
Além de escrever o livro "Raul Soares, Um Navio Tatuado em Nós", já realizei inúmeras entrevistas sobre o  assunto. Também prestei vários depoimentos.
Nas duas últimas semanas, o tema voltou à tona na imprensa.
No dia 2, o jornal A Tribuna, onde trabalhei durante 23 anos (1988 a  2011), publicou reportagem  de Eduardo Brandão, para quem concedi entrevista, junto com o ex-sindicalista Vitorino Nogueira, que permaneceu confinado por três meses, e o ex-deputado federal Gastone Righi, que foi advogado de presos políticos.
Ontem, a TV Tribuna exibiu reportagem que inclui entrevista minha, do ex-sindicalista Argeu Anacleto da Silva e do médico Thomas Maack. Ambos estiveram encarcerados na embarcação, assim como meu pai, Iradil Santos Mello, que também era diretor do Sindicato dos Operários Portuários.
Para assistir ao vídeo, clique aqui.  No G1, o material foi reproduzido como texto.
As fotos que aparecem na reportagem são do meu acervo pessoal.

A seta à direita indica meu pai, Iradil Santos Mello, no convés do navio Raul Soares junto com outros presos e autoridades. Em 16 de setembro de 1964.

Bem-conduzida e editada, a reportagem da TV Tribuna só tem duas incorreções. Uma sobre o tempo de falecimento de meu pai. Ele morreu em 21 de dezembro de 1999 e não, há três anos.
A outra é a informação prestada pelo médico Thomas Maack.
Ele diz que só agora, 48 anos depois de sua libertação, voltou ao Porto de Santos para rever o local onde o navio ficou ancorado.
Na verdade,  ele retornou em 20 fevereiro de 2004, uma sexta-feira, véspera de Carnaval. Eu mesma o levei àquele lugar e o fotografei. Depois, seguimos até o Palácio da Polícia, na Rua São Francisco, onde ele também ficou preso após sair do navio. Na sequência, almoçamos no restaurante Vista ao Mar.
Como lembrança de Santos, ele levou o livro de fotos e textos Um jeito santista de ser, editado pela Prefeitura. Três notas sobre a visita foram publicadas na coluna Dia a Dia de A Tribuna em 21 de fevereiro de 2004. Clique na imagem abaixo para ler:
                                       
Essa passagem do médico por Santos em 2004 foi uma consequência da reportagem inédita que fiz sobre ele e que saiu publicada no jornal A Tribuna em 2 de novembro de 2003.
Naquele ano, eu o localizei em Nova Iorque (EUA) e o entrevistei durante quatro meses. A matéria está reproduzida no site Novo Milênio.
Poemas
A temática do navio-prisão não está restrita às reportagens. O jornalista e historiador Alessandro Atanes fez críticas literárias sobre dois poemas de minha autoria que estão em meu livro "Raul Soares, Um Navio Tatuado em Nós". Ambos completaram três décadas este ano. Leia na Revista Pausa as análises: "Apenas um navio" e "Filho de um estupro".
No livro, há ainda outros dois poemas relacionados a emoções despertadas  durante o período da ditadura militar.
Um é "Herói anônimo": "As águas do lago/onde afogaram teus sonhos/assumiram o escarlate do teu sangue,/o acre do teu suor.../E a cara da História/apossou-se das pregas de tua testa/embora teu nome/tenha se perdido/entre tantos/nas memórias".
O outro é "Erguendo um brinde": "Hoje tenho motivos/para um sorriso vingado./Te encontrei sobrevivo,resgatado./Ainda percebo vestígios/dos dribles dos últimos anos./Mas tua cara anda boa/solicitando um brinde./Como não bebo/ergo a mão/em sinal de prazer./De total excitação./De sangue sobrecarregado/de adrenalina.../Ergo a mão/ e arrisco uma gargalhada./Sabia que um dia/ainda riríamos de muitos deles./Sabia!/Até parece piada./Te arrebentaram.../Te matar não conseguiram".

Veja também: 
Há 48 anos, o navio Raul Soares virava prisão no Porto de Santos.
41 anos do AI-5 e o navio Raul Soares.
A ditadura não começou com o AI-5, mas em 1º. de abril de 1964.
O arquivo secreto do Dops.
Minha entrevista sobre censura e ditadura  à ECA/USP (partes 1 e 2).
Minha entrevista sobre censura e ditadura à ECA/USP (partes 3 e 4).

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