segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Tarrafa Literária

Lídia Maria de Melo (texto, fotos e vídeos)

(Fotos de Lídia Maria de Melo - clique nelas para vê-las ampliadas)
Teatro Guarany, localizado na Praça dos Andradas, 100, na esquina com a
Rua Amador Bueno, no Centro de Santos.
Ao longo de sua história, o Teatro Guarany, fundado em 1882, testemunhou o talento de personalidades renomadas da dramaturgia, da literatura e até da política. 
Em 20 de junho de 1886, a atriz francesa Sarah Bernhardt interpretou em seu palco a cortesã parisiense Marguerite Gautier na peça A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho.
Em 1887, foi a vez do ator italiano Giovani Emanuel mostrar por que era considerado o melhor intérprete de Shakespeare.
Em 1902, a atriz francesa Gabrielle Réjane, tão consagrada quanto Sarah Bernhardt, valorizou o tablado do prédio estilo neoclássico, sempre aberto ao talento artístico.
Em 1907, o público recebeu o escritor e dramaturgo Artur Azevedo (1907), irmão do também escritor Aluísio Azevedo, autor de O Cortiço.
Durante a campanha contra a escravidão dos negros, o Guarany cedeu espaço também para atos abolicionistas, que tiveram a participação, por exemplo, do jornalista José do Patrocínio.
Neste fim de semana prolongado pelos feriados da Independência e de Nossa Senhora do Monte Serrat, Padroeira de Santos, os convidados são escritores, jornalistas, tradutores, ilustradores, historiadores, filósofos e músicos. Além, é claro, do público, que marcou presença em toda a programação da Tarrafa Literária - 1º Encontro Internacional de Escritores de Santos, iniciada na quinta-feira e encerrada hoje.
O Teatro Guarany está localizado na Praça dos Andradas, 100, no Centro Histórico de Santos.








No sábado, o amazonense Milton Hatoun e o pernambucano André Laurentino, mediados pelo santista José Roberto Torero (ao centro), participaram do painel Ficção, A Mentira sem Culpas.




Exemplos de livros de Milton Hatoun: Dois Irmãos (romance) e A Cidade Ilhada (contos). Desse, ele leu um trecho do conto Varandas da Eva.
Além de escritor, ele é professor universitário de Literatura.

Frases de Hatoun:
"Escritor não sofre. Quem sofre é a mulher da periferia de São Paulo, que pega três ônibus para chegar no emprego e chegar às oito".

"A vida é o melhor curso para quem quer ser escritor. A vida vivida sem medo e a vida da leitura".
O primeiro (e único, por enquanto) livro de André Laurentino:
A Paixão de Amâncio Amaro.
Além de escritor, ele é publicitário.Frases de André Laurentino:
"O leitor tem que ser tão poeta quanto o escritor. Para encontrar no texto significados que nem o autor encontrou".

"Quando inventamos personagens, eles precisam fazer sentido dentro daquele universo".

Exemplos de livros e filmes de José Roberto Torero:

O Chalaça, Terra Papagalli e As primeiras histórias de Lelê (livros)

Pequeno Dicionário Amoroso, Amor!, Memórias Póstumas (cinema)

Retrato Falado
(série TV)

Além de escritor, é cineasta, roteirista, jornalista, comentarista esportivo

Frase de Torero: "Por mais que os ficcionistas se esforcem, a realidade é imbatível"


Lourenço Mutarelli e Marcelo Mirisola, mediados por José Luiz Tahan (ao centro), discorreram sobre o tema Mentiras, Culpa da Ficção.

Autor de O Cheiro do Ralo, que deu origem ao filme homônimo em que ele também atuou, de O Natimorto e Jesus Kids, Lourenço Mutarelli autografou A Arte de Produzir Efeito sem Causa. Ainda não comecei a ler, mas, numa rápida folheada, deu para observar que emprega recursos linguísticos das histórias em quadrinhos (HQ), como as frases curtas. Isso garante o ritmo da narrativa. Como desenhista, Mutarelli tem tradição na HQ. Durante sua palestra, mostrou-se um filósofo.

Marcelo Mirisola já publicou: Fátima fez os pés para mostrar na choperia, O herói devolvido, O azul do filho morto, Bangalô, O banquete (com o cartunista Caco Galhardo), Joana a contragosto, Notas da arrebentação, O homem da quitinete de marfim, Proibidão, Animais em extinção.

Manifestou um humor ácido e ironia em relação aos grupos que ele considera que fazem ''pose de escritor''. Declarou-se perseguido e marginalizado pelos organizadores literários. Falou sobre seu bom relacionamento com o pessoal da Editora 34 e o distanciamento da equipe da Editora Record.

E ainda fez uma declaração, com a qual não concordei: ''Nunca vi literatura ajudar ninguém a melhorar de vida''. Quando ele foi para a sessão de autógrafos, disse a ele que discordava de sua opinião. E citei casos em que a literatura fizeram a diferença na vida de pessoas que conheço. Ele rebateu com o argumento de que a literatura de Dostoiévski, por exemplo, faz do leitor um contestador tão ferrenho que ele só pode se prejudicar.



No domingo, o público acompanhou Laurentino Gomes e Jorge Caldeira, mediados pelo jornalista e escritor Zuenir Ventura (ao centro), no debate sobre Jornalistas Além Muros.

Frases:
Laurentino Gomes:
"Pesquisa é uma grande aventura, um trabalho solitário. Não tenho equipe, gosto de fazer sozinho, embora dê mais trabalho" .
Jorge Caldeira: "Pesquisei dez dias para escrever a biografia do Ronaldo. Porque ele nasceu na era da Internet".
Zuenir Ventura: "Pesquisa é muito bom, mas você precisa saber parar na hora".


Na segunda parte, o filósofo alemão Theo Roos e a filósofa Márcia Tiburi, mediados por Mona Dorf (ao centro), participaram do painel Filósofos Além Muros.

Frase de Márcia Tiburi: "Em 30 anos de ditadura no Brasil, a reserva de identidade foram os movimentos culturais".

Frases de Theo Roos: "A música, com diferentes filósofos, tornou-se um meio importante. Por que uma apresentação filosófica não pode ser como um concerto de rock?

"A música afeta o nosso corpo, ultrapassa todas as fronteiras dos idiomas".

As falas de Theo Roos tiveram tradução simultânea. Pensador moderno, que inclui a música em seu trabalho, ele tocou canções de Bob Dylan e Van Morrison com o santista Marcos Canduta.

Veja e ouça, clicando na seta:

A Tarrafa Literária foi aberta oficialmente na quinta-feira com pequeno show de Arnaldo Antunes.
Na sexta-feira, o jornalista e escritor Ruy Castro (autor de A Estrela Solitária, biografia de Garrincha, e O Anjo Pornográfico, entre outros) e Heloísa Seixas, sua mulher, que é tradutora, jornalista, cronista e romancista, falaram sobre Os Livros Dentro dos Livros. A mediação foi do jornalista Ricardo Kotscho. (Quando ainda estudava Letras, eu guardava as reportagens de Kotscho pela beleza de seus textos).

Na sequência, a programação da Tarrafa previa a participação do jornalista e escritor canadense Jeremy Mercer. Mas ele não conseguiu embarcar para o Brasil, porque se esqueceu de providenciar o visto para entrada no país.


Na última hora, a tradutora santista Estela dos Santos Abreu, há 35 anos radicada no Rio de Janeiro, não deixou a Tarrafa cair. Fez uma participação brilhante no encontro, junto com o capista de livros Hélio de Almeida. Foram mediados pela jornalista Patrícia Andrick. Conversei com Estela, no foyer do Guarany, e fiquei encantada com sua vitalidade e paixão pela arte da tradução. Ela, que verte obras do francês para o português, me contou como faz para se sair de situações em que não existe correspondente no idioma de Camões.

Quando traduziu A Ilha da Chuva e do Vento, foi a Guadalupe, ilha francesa no Caribe, para conversar com a autora, Simone Schwarz-Bart. Na obra, ela cita, por exemplo, uma árvore que não existe no Brasil. Uma espécie similar é o jatobá. Em comum acordo com Simone, batizou dessa forma na edição brasileira. ''Por isso, não gosto de traduzir autor morto. Com o vivo, eu pergunto, troco ideias. Com um morto não posso fazer isso'', disse.

Outras situações mencionadas: os nomes de frutas específicas de Guadalupe e ainda os de animais que não existem aqui na América do Sul, como variações de lagartixas.

Por não ter onde anotar o nome da autora e do livro, Estela escreveu no saco de papel da Realejo Livros & Edições, que aboliu às sacolinhas plásticas, em favor do meio ambiente.


Comandanda por José Luiz Tahan, a Realejo promoveu a Tarrafa Literária com apoio do Ministério da Cultura, do Porto de Santos, da Secretaria Especial de Portos, dos Serviços de Praticagem do Estado de São Paulo, do Sistema A Tribuna de Comunicação e da Prefeitura de Santos.

3 comentários:

  1. Lídia, bom dia.
    Aproveitei essa manhã linda de segunda-feira, aqui pelos lados da Aparecida, para ler as suas blogadas a respeito da "Tarafa". Estive lá na sexta-feira e aproveitei ao máximo as presenças de Heloisa Seixas, Ruy Castro (com quem trabalhei na série de espetáculos musicais "Chega de Saudade" (Rio, SP, BH, Salvador e Brasília) e Ricardo Kotscho (meu chefe no Estadão, no comecinho da minha carreira de repórter). Gostei das suas blogadas e das fotos. Parabéns. Comprei dois livros do casal Ruy e Heloisa. Li numa sentada o livro dela com "contos mínimos". Li e recomendo.
    Beijos.
    Saudades.
    Cláudio Amaral
    clamaral@uol.com.br

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  2. Exemplo de como toda reportagem deveria ser, muita informação em pouco espaço. Precisão e concisão. Qualidades inerentes, que faculdade alguma ensina. Ah, e eu estava lá, com você, o tempo todo: você nem estava trabalhando...

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  3. Sem sombra de dúvida, um dos mais importantes eventos do gênero. Não pude ir, mas nem precisei, pois aqui, deu prá ter uma boa noção de como foi legal mesmo. Oxalá isso se repita por mais vezes, seja no Guarany, seja em qualquer lugar.

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